Brasil na mira como fornecedor alternativo
Os Estados Unidos intensificaram a guerra comercial com a China no início de 2025, aumentando drasticamente as tarifas de importação sobre produtos chineses. Em fevereiro, foi anunciada uma tarifa adicional de 10% sobre todas as mercadorias chinesas, e nas semanas seguintes essa sobretaxa escalou para patamares inéditos – chegando a 104% a 125% sobre bens da China. Pequenas fábricas chinesas de roupas fecharam as portas diante da queda abrupta das exportações para os EUA, e gigantes do varejo americano alertam para possíveis desabastecimentos e alta de preços de itens como vestuário. Com contêineres saindo quase vazios da China e importadores buscando alternativas, abre-se uma janela de oportunidade para fornecedores de outros países.
Caminhões aguardam em terminal de contêineres na China (abril/2025). Em meio às tarifas recordes impostas pelos EUA, exportadores chineses enfrentam filas e atrasos.
Para o Brasil, essa conjuntura pode ser favorável. Um mês após o “tarifaço” dos EUA, compradores norte-americanos já sondavam empresários brasileiros para substituir produtos chineses. O setor de vestuário da Zona da Mata mineira, tradicional polo de confecções, tem a chance de conquistar uma fatia maior do mercado externo. Marcas brasileiras de moda vêm marcando presença em feiras internacionais e missões comerciais para apresentar suas coleções, reforçando atributos de qualidade e criatividade. Em Nova York, por exemplo, uma delegação de marcas nacionais participou da feira Coterie em fevereiro, buscando atrair grandes varejistas num mercado que deve consumir US$ 365,6 bilhões em vestuário em 2025. Essa aproximação é estratégica, pois os EUA continuam sendo o maior importador global de roupas – foram US$ 77 bilhões em importações de janeiro a novembro de 2024.
Ganhos potenciais e cuidados necessários
Com as tarifas punitivas tornando os produtos chineses muito mais caros nos EUA, o Brasil pode competir em melhores condições de preço. Embora o país ainda responda por parcela mínima das compras americanas (apenas US$ 17,8 milhões exportados aos EUA em 11 meses de 2024, posicionando o Brasil como 53º fornecedor), espera-se um incremento. Exportadores brasileiros de vestuário relatam aumento de consultas e pedidos do exterior desde o início das sanções comerciais sino americanas. De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), as empresas estão se organizando em conjunto para negociar com compradores dos EUA e aproveitar a brecha deixada pela China. Uma missão empresarial brasileira visitou os Estados Unidos no início de maio para tratar de negócios com varejistas interessados.
No entanto, a oportunidade vem acompanhada de desafios. Produtos chineses excedentes podem ser desviados para outros mercados, incluindo o Brasil, intensificando a concorrência doméstica. O volume que deixará de entrar nos EUA – cerca de US$ 28 bilhões anuais em têxteis e confeccionados chineses (valor importado pelos americanos da China em 2024) – tende a buscar novos destinos. Entidades setoriais como a ABIT alertam para o risco de “invasão” de artigos asiáticos no mercado brasileiro a preços baixos. No setor de calçados isso já preocupa, e em vestuário não é diferente. Por isso, além de olhar para fora, os fabricantes locais devem ficar atentos à defesa comercial e a medidas de controle de importações desleais.
Preparação e adaptação das indústrias locais
Para aproveitar o momento, as confecções da Zona da Mata e de todo o Brasil precisarão investir em diferenciais. Apostar em qualidade, design original e cumprimento de prazos são fatores chave para conquistar os clientes estrangeiros frente a competidores tradicionais da Ásia. Além disso, certificações socioambientais podem agregar valor e tornar os produtos brasileiros mais atraentes num contexto em que importadores americanos estão diversificando fornecedores por motivos não só econômicos, mas também de compliance e sustentabilidade.
No curto prazo, já há resultados palpáveis: em janeiro, uma comitiva brasileira na feira Colombiatex (na Colômbia) – importante evento latino-americano do setor têxtil – gerou cerca de US$ 8,5 milhões em negócios imediatos e prospectou mais US$ 91 milhões para os próximos meses, indicando apetite por tecidos e materiais brasileiros. Embora esse volume seja voltado principalmente para insumos, reforça a confiança na capacidade do Brasil de competir em nível internacional. Com planejamento, inovação e apoio institucional, os empresários de vestuário podem converter a crise entre EUA e China em uma oportunidade concreta de expansão das exportações, fortalecendo tanto a indústria nacional quanto a economia da Zona da Mata mineira.
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