quinta-feira, 8 de maio de 2025

Inovação Tecnológica e Automação Acessível Transformam o Setor Têxtil e de Confecções

 

Feiras recentes revelam a nova face da tecnologia têxtil

O primeiro quadrimestre de 2025 foi marcado por grandes eventos tecnológicos no setor têxtil e de vestuário, evidenciando soluções de automação acessíveis até para pequenas e médias confecções. Em fevereiro, São Paulo sediou a feira FebraTêxtil 2025 (18 a 20 de fevereiro), que retornou ao Expo Center Norte reunindo mais de 11 mil visitantes e centenas de expositores de equipamentos, insumos e serviços para a indústria. Em abril, ocorreu em Americana (SP) a 7ª edição da TecnoTêxtil Brasil 2025 (22 a 25 de abril), considerada a maior feira de tecnologia têxtil do país, com todos os estandes vendidos e fila de espera de expositores. Nesses eventos, o foco esteve em apresentar inovações que cabem no orçamento e na escala de fabricantes menores, não apenas em maquinários para gigantes.

Um destaque foi a presença de empresas nacionais fornecedoras de máquinas de costura, corte e estamparia de última geração a preços competitivos. A catarinense Rolemak, por exemplo, exibiu na TecnoTêxtil novas máquinas de costura industrial, bordado e corte a laser de alta eficiência, com pacotes que incluem treinamento e suporte técnico local. A proposta é clara: aumentar a produtividade e competitividade mesmo das pequenas confecções, através de equipamentos mais rápidos, precisos e conectados. Soluções de automação simples, como dispositivos para enfesto automático de tecidos ou mesas de corte eletrônicas, estiveram entre os campeões de interesse do público – muitos confeccionistas da Zona da Mata compareceram à feira em busca dessas ferramentas para modernizar seus parques fabris.

Além das máquinas físicas, a digitalização de processos despontou como tendência acessível. Softwares nacionais de modelagem e encaixe automático (que otimizam o aproveitamento do tecido) foram demonstrados, assim como sistemas de gestão de oficina que monitoram em tempo real a produção. No âmbito da Indústria 4.0, um projeto apoiado pelo Senai lançou um sistema de baixo custo voltado a pequenas fábricas de vestuário, capaz de acompanhar paradas de máquinas, índices de refugo e eficiência de até 8 máquinas simultaneamente. Essa ferramenta, espécie de “painel de controle” da confecção, usa sensores simples e conexão Bluetooth para fornecer dados de chão de fábrica via aplicativo – tornando viável a gestão visual e em tempo real mesmo em negócios familiares. “É uma inovação sob medida para a nossa realidade de pequenas facções”, comentou um empresário de Muriaé (MG) presente no lançamento.

Automação para todos: financiamentos e capacitação

O governo e entidades setoriais têm apoiado a difusão dessas tecnologias. A política industrial Nova Indústria Brasil incluiu a confecção entre os setores prioritários para modernização, e a recente implementação da Depreciação Acelerada (incentivo fiscal) permite às empresas do vestuário abaterem 50% do valor de novas máquinas já no primeiro ano. Isso significa recuperação mais rápida do investimento em automação, aliviando o peso inicial para adquirir equipamentos. Além disso, linhas de crédito do BNDES e bancos regionais estão ativas: o programa Brasil Mais Produtivo, em parceria com o Senai, atendeu milhares de micro e pequenas indústrias com consultorias para elevar produtividade através de melhorias de processo e adoção de tecnologia. Em Minas Gerais, o Programa FIEMG Competitiva vem subsidiando consultorias de inovação para confecções, enquanto workshops de Indústria 4.0 foram realizados em cidades da Zona da Mata (incluindo capacitação em Planejamento e Controle da Produção em Juiz de Fora, em abril, via SENAI regional).

Os resultados dessas iniciativas já aparecem nas estatísticas. Segundo a ABIT, 42% das empresas têxteis e de confecção planejam investir em tecnologia e automação em 2025 – um salto significativo que indica um ambiente setorial propício à inovação. Vale lembrar que em 2024 o setor voltou a crescer (produção têxtil +4%, vestuário +3,8%) após anos difíceis, o que anima os empresários a reinvestirem parte dos lucros em modernização. “Estamos vendo robôs de costura colaborativos, mesas de corte automáticas com preço de carro popular, sistemas de rastreabilidade via QR code nas etiquetas – coisas que pareciam distantes agora ao alcance das PMEs”, comenta Fernando Pimentel, diretor da ABIT, enfatizando que a difusão tecnológica é crucial para o Brasil ganhar competitividade frente a países asiáticos.

Impacto local: produtividade e qualidade em alta

Nas confecções da Zona da Mata, a adoção dessas inovações vem ocorrendo de forma gradual, porém consistente. Algumas fábricas de moda íntima na região de Juruaia investiram em máquinas de costura computadorizadas que cortam linha e fazem arremate automaticamente, reduzindo o tempo por peça e o retrabalho. Malharias em Leopoldina passaram a utilizar sensores para controle de tensão nos teares e monitoramento preventivo – evitando paradas inesperadas. E em Ubá, polos moveleiro e de confecção se uniram para compartilhar um laboratório de impressão digital têxtil, onde pequenas marcas podem estampar seus tecidos com alta qualidade sem precisar importar serviços. Esse formato colaborativo diminui custos e democratiza o acesso à tecnologia de ponta.

A automação acessível também traz ganhos de qualidade e rastreabilidade, o que é cada vez mais demandado pelos clientes. Com sistemas simples de visão computacional, algumas confecções implementaram inspeção de qualidade ainda na linha de produção (câmeras detectam falhas de costura ou manchas), garantindo que cada lote saia praticamente livre de defeitos. Isso reduz devoluções e desperdício, impactando positivamente o bolso do empresário. Há ainda a vertente da sustentabilidade: muitas inovações tecnológicas apresentadas nas feiras também ajudam a economizar recursos naturais – por exemplo, máquinas de tingimento digital que consomem menos água e energia, ou painéis solares para aquecer caldeiras de lavanderia.

Preparando-se para o futuro imediato

A mensagem principal dos eventos e iniciativas recentes é que nenhuma empresa de vestuário está condenada a ficar para trás tecnologicamente. As soluções existem para todos os portes: desde um simples software freemium de gestão de estoque até um robô de enfesto que se paga em meses. Especialistas recomendam que os empresários da Zona da Mata identifiquem seus gargalos produtivos e busquem a tecnologia adequada a cada problema, lembrando que automatizar não significa necessariamente substituir mão de obra, mas sim elevar o patamar de eficiência e liberar os funcionários de tarefas repetitivas para funções de maior valor (como design, vendas e controle de qualidade).

Com a proximidade de grandes eventos como a Copa do Mundo de 2026 e até mesmo a perspectiva de o Brasil sediar a Expo 2030, a cadeia da moda quer estar preparada para atender aumentos de demanda com agilidade e excelência. A adoção de tecnologias agora, em 2025, colocará as confecções locais em posição de vantagem para colher frutos nessas oportunidades futuras. Afinal, um parque fabril modernizado produz mais, com menos custos e menos erros – o que se traduz em preços mais competitivos e melhores prazos, fatores determinantes para ganhar mercados. Tudo isso sem perder a essência criativa e artesanal que caracteriza a moda mineira, mas sim potencializando-a com ferramentas do século XXI.


Exportações de Vestuário: Oportunidades e Desafios Recentes em Feiras e Acordos

O Brasil no circuito das feiras internacionais de moda

Entre o final de 2024 e os primeiros meses de 2025, o Brasil ampliou sua participação em feiras internacionais de vestuário, buscando firmar posição no mercado externo de moda. Em janeiro, uma delegação recorde de 43 empresas brasileiras participou da Colombiatex 2025, em Medellín – a principal feira têxtil da América Latina. Sob coordenação do programa Texbrasil (parceria ABIT/Apex-Brasil), 36 dessas empresas eram fabricantes de tecidos e insumos, e 7 integravam o projeto Brazil Machinery Solutions. O resultado foi animador: durante os três dias de evento, foram realizadas 7 mil rodadas de negócio, contabilizando US$ 8,5 milhões em vendas fechadas e expectativa de mais US$ 91 milhões nos próximos 12 meses. Houve forte procura internacional por tecidos sustentáveis e inovadores brasileiros, reforçando a competitividade do país nesse nicho.

No segmento de vestuário pronto, marcas brasileiras também marcaram presença em feiras de moda nos EUA e Europa. Em fevereiro, 15 marcas de moda feminina e acessórios do Brasil expuseram na feira Coterie New York 2025, vitrine global para atacadistas e boutiques premium. A participação, apoiada pelo Texbrasil, visou aproveitar o enorme mercado norte-americano – que deve consumir US$ 365 bilhões em vestuário em 2025. Executivos da ABIT ressaltaram a importância da Coterie como plataforma para gerar contatos com compradores dos EUA e Canadá, abrindo portas em shopping centers e lojas de departamento. Apesar da distância em preços e estilos, o interesse por produtos com identidade brasileira (como moda praia, calçados de design e bolsas de couro) tem crescido nesses eventos.

Na Europa, em fevereiro ocorreu a tradicional Première Vision Paris, focada em tecidos e tendências. O Brasil levou estúdios de design têxtil, empresas de couro e alguns confeccionistas para expor novas estampas e materiais. A estratégia de promoção do país enfatiza atributos como criatividade tropical, sustentabilidade e capacidade de produção sob encomenda – qualidades apreciadas por marcas independentes e designers internacionais que visitam essas feiras em busca de fornecedores diferenciados.

Além disso, o país participa de mostras setoriais ao longo de 2025, como a MAGIC Las Vegas (agosto) e a Africa Sourcing & Fashion Week, em Adis Abeba (outubro), reforçando sua presença global e a busca por novos contratos.

Ganhos com acordos comerciais e acesso a novos mercados

No campo diplomático-comercial, a conclusão do acordo Mercosul-União Europeia promete reduzir custos e entraves para exportar vestuário brasileiro à Europa nos próximos anos. Setores como o de confecções e calçados, historicamente protegidos na UE, passarão por desgravação tarifária gradual em até 10 anos. Isso significa que, aos poucos, marcas brasileiras poderão vender seus produtos na Europa com menor carga tributária, tornando-se mais competitivas em preço. Estudos apontam que, quando plenamente implementado, o acordo pode aumentar em R$ 1,8 bilhão as exportações brasileiras anuais, com destaque para alimentos, celulose e manufaturados como têxteis e vestuário. Pequenas e médias empresas também serão beneficiadas, pois o acordo prevê facilitação de normas técnicas e reconhecimento mútuo, o que ajuda a reduzir a burocracia que costuma dificultar a vida dos pequenos exportadores.

Outra oportunidade estratégica está na reconfiguração das cadeias globais de fornecimento. Com o acirramento da disputa comercial entre EUA e China – que levou as tarifas americanas sobre produtos chineses a ultrapassarem 100% – importadores dos Estados Unidos passaram a diversificar seus fornecedores. Países da América Latina, mais próximos e politicamente alinhados, ganham espaço na tendência conhecida como nearshoring ou ally-shoring. Embora o Brasil ainda não seja um grande exportador de vestuário para os EUA como o México ou a América Central, o cenário atual favorece o país, principalmente em nichos como jeans e malharia básica. A diferença de custo, antes elevada, tornou-se menos expressiva com as novas tarifas, e a logística mais ágil também favorece fornecedores da região.

Desafios internos e estratégias para crescer lá fora

Apesar dessas oportunidades, as exportações brasileiras de vestuário ainda enfrentam desafios consideráveis. Em 2024, o Brasil exportou US$ 908 milhões em produtos têxteis e de confecção, mas importou US$ 6,6 bilhões, resultando em um grande déficit comercial. Ou seja, o país ainda é um importador líquido de moda, sobretudo de itens asiáticos de baixo custo.

Um dos principais obstáculos é a escala produtiva. Muitos compradores internacionais exigem volumes elevados e entregas regulares, o que pode ser difícil para confecções de menor porte. Polos como o da Zona da Mata, compostos majoritariamente por pequenas fábricas, precisam atuar de forma colaborativa para atender pedidos maiores. O modelo de consórcios de exportação, já usado com sucesso em outros setores, é uma alternativa viável e conta com apoio da Apex-Brasil.

Outro desafio é adequar os produtos aos mercados-alvo. Adaptar coleções, modelagens e materiais exige pesquisa e planejamento. O exemplo da Colombiatex reforça essa ideia: os maiores volumes de negócios vieram de tecidos funcionais e sustentáveis, segmento no qual o Brasil tem vantagem competitiva (ex: poliéster reciclado, seda da Amazônia). Já no vestuário pronto, os melhores resultados vêm de nichos específicos como moda praia, fitness e calçados femininos, onde o país tem identidade forte.

Feiras internacionais continuam sendo a principal ponte para entrar e crescer no mercado externo, com apoio institucional da Apex-Brasil, da ABIT e das entidades estaduais. Investir em branding, certificações (como Origem Brasil) e em profissionalização comercial é o caminho para aproveitar as janelas que 2025 está abrindo.

O ano de 2025 apresenta um cenário encorajador para as exportações brasileiras de vestuário, com oportunidades reais em mercados consolidados e emergentes. Acordos comerciais trazem vantagens tarifárias, as feiras internacionais geram visibilidade e negócios, e o reposicionamento de grandes mercados abre espaço para novos players.

Com planejamento, visão estratégica e articulação coletiva, polos produtivos como o da Zona da Mata mineira têm potencial para conquistar novos mercados, se destacando por sua qualidade, criatividade e capacidade de adaptação. Superar obstáculos logísticos e burocráticos será tão importante quanto oferecer estilo e bom preço. Exportar moda exige persistência – mas também é uma oportunidade concreta de expansão e valorização da indústria nacional.

 

Sustentabilidade e Economia Circular Avançam nas Pequenas e Médias Empresas de Moda

 

Moda com propósito: um movimento que ganha força

Entre janeiro e maio de 2025, multiplicaram-se os exemplos de pequenas e médias empresas brasileiras de moda adotando práticas sustentáveis e princípios da economia circular em seus negócios. Impulsionadas tanto por exigências do mercado quanto por políticas e eventos recentes, essas confecções estão repensando desde as matérias-primas até o destino final dos produtos. O tema ganhou destaque mundial no Dia Internacional do Resíduo Zero 2025, cujo lema – “Rumo ao resíduo zero na moda e nos têxteis” – enfatiza a necessidade de reduzir drasticamente desperdícios e tratar resíduos têxteis como recursos. Globalmente, a indústria da moda produz cerca de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, e no Brasil cresce a consciência de que é preciso mudar esse modelo linear de “produzir, usar e descartar”.

Iniciativas concretas na Zona da Mata e no Brasil

Na Zona da Mata mineira, berço de inúmeras confecções de pequeno porte, já se vê essa transformação em curso. Em Juiz de Fora, organizações locais implementaram políticas de reutilização de materiais têxteis para tornar a indústria mais consciente e sustentável. Retalhos de tecido que antes teriam o lixo como destino agora são coletados, reprocessados e reintegrados na cadeia produtiva, seja como matéria-prima para novas peças, seja em acessórios e brindes. Essa abordagem de resíduos zero não só reduz custos e impacto ambiental, como também engaja a comunidade – no fim de abril, a cidade sediou um encontro de brechós e moda consciente, aproximando consumidores do conceito de reuso e upcycling de roupas.

Exemplos inspiradores vêm também de outras regiões. No Nordeste, pequenas marcas autorais selecionadas para o projeto Awake – que ganhou visibilidade durante a Semana de Moda de Milão – exibiram criações pautadas em consciência social e ambiental, trabalhando com materiais orgânicos, reciclados e técnicas de upcycling. Já no Sudeste, a tradicional feira Minas Trend (BH) adotou em sua última edição (março de 2025) o conceito de reaproveitamento em toda a organização do evento, incentivando expositores a utilizarem materiais reciclados nos estandes e a priorizarem fornecedores sustentáveis. Marcas infanto-juvenis como a mineira Tribo da Preservação, por exemplo, apresentaram coleções com pegada de carbono neutra e uso de algodão certificado (BCI) sem tingimentos tóxicos – medidas alinhadas às práticas ESG e cada vez mais valorizadas pelos compradores.

Apoio institucional e benefícios para quem inova

O avanço da sustentabilidade na moda conta com respaldo de programas e entidades. O Sebrae, por meio de seu Guia Prático de Moda Sustentável, tem orientado empreendedores sobre como implantar ações de ESG nos pequenos negócios de moda. Foram lançados e-books e workshops online ensinando desde a escolha de tecidos orgânicos e reciclados, até estratégias de logística reversa e consignação para prolongar o ciclo de vida das roupas. Além disso, o governo federal incluiu o setor têxtil e de confecção em iniciativas de descarbonização: a ABIT coordena desde 2024 a “Liga da Descarbonização”, um programa que ajuda empresas a mensurar e reduzir suas emissões de CO₂ e a trocar experiências rumo à meta de carbono neutro.

Eventos internacionais sediados no Brasil neste ano também deram destaque ao tema. Em maio, São Paulo recebeu o World Circular Economy Forum 2025 (WCEF), principal fórum global de economia circular, e um dos painéis centrais abordou justamente a indústria têxtil circular e moda sustentável. Empresas latino-americanas compartilharam casos de sucesso de incorporação da circularidade em seus modelos de negócio, mostrando ser possível lucrar reutilizando materiais e integrando grupos vulneráveis (como cooperativas de costureiras) nas cadeias circulares. A escolha do Brasil para sediar esse evento sinaliza reconhecimento internacional dos avanços locais e serviu de motivação extra para muitos empresários aderirem às práticas verdes.

Do ponto de vista financeiro, adotar sustentabilidade pode abrir portas para novos mercados e investimentos. Consumidores – especialmente os mais jovens e os estrangeiros – estão dispostos a valorizar marcas engajadas. Pesquisas mostram que 88% dos consumidores esperam práticas éticas e produtos ecológicos das empresas, tendência que se reflete no varejo de moda. Pequenas confecções que seguem esse caminho relatam maior fidelização de clientes e até redução de custos operacionais: economia de água com sistemas de reuso, renda extra com venda de resíduos (aparas de tecido para reciclagem) e redução de desperdício de matéria-prima.

Impacto para a competitividade e imagem da indústria local

Para os empresários do vestuário da Zona da Mata, a incorporação de práticas sustentáveis deixou de ser apenas uma questão de consciência ambiental para se tornar estratégia de negócios. Confecções que adotam modelos de economia circular – como aluguel de roupas, produção sob demanda (evitando excesso de estoque) e programas de devolução/reciclagem – conseguem se diferenciar num mercado cada vez mais saturado de produtos massificados. Além disso, essas iniciativas preparam as empresas para futuras regulamentações: a União Europeia, por exemplo, caminha para exigir que produtos têxteis importados sejam duráveis e recicláveis, sob pena de restrições.

Na prática, mesmo com recursos limitados, pequenas empresas vêm inovando. Algumas implementaram coleções cápsula recicladas, utilizando sobras de coleções anteriores para criar novas peças exclusivas. Outras firmaram parcerias com startups de tecnologia para monitorar o uso de água e química na produção em tempo real, garantindo eficiência e conformidade ambiental. Há cases de malharias em Minas Gerais que instalaram painéis solares para abastecer as máquinas de costura, reduzindo custos de energia e pegada de carbono simultaneamente.

Em síntese, entre janeiro e maio de 2025, ficou claro que a sustentabilidade não é mais privilégio de marcas de luxo ou de grandes varejistas – ela permeia cada vez mais os pequenos negócios de moda brasileiros. Essa transição, além de mitigar impactos ambientais como a poluição têxtil (que contribui com até 8% das emissões globais de gases de efeito estufa), fortalece a imagem do setor perante clientes e investidores. A indústria da moda da Zona da Mata, ao abraçar esses valores, posiciona-se na vanguarda de um movimento inevitável, conquistando relevância dentro e fora do país ao mostrar que é possível crescer de forma responsável e inovadora.


EUA Elevam Tarifas contra a China e Oportunidades Emergentes para o Vestuário Brasileiro

Brasil na mira como fornecedor alternativo

Os Estados Unidos intensificaram a guerra comercial com a China no início de 2025, aumentando drasticamente as tarifas de importação sobre produtos chineses. Em fevereiro, foi anunciada uma tarifa adicional de 10% sobre todas as mercadorias chinesas, e nas semanas seguintes essa sobretaxa escalou para patamares inéditos – chegando a 104% a 125% sobre bens da China. Pequenas fábricas chinesas de roupas fecharam as portas diante da queda abrupta das exportações para os EUA, e gigantes do varejo americano alertam para possíveis desabastecimentos e alta de preços de itens como vestuário. Com contêineres saindo quase vazios da China e importadores buscando alternativas, abre-se uma janela de oportunidade para fornecedores de outros países.

Caminhões aguardam em terminal de contêineres na China (abril/2025). Em meio às tarifas recordes impostas pelos EUA, exportadores chineses enfrentam filas e atrasos.

Para o Brasil, essa conjuntura pode ser favorável. Um mês após o “tarifaço” dos EUA, compradores norte-americanos já sondavam empresários brasileiros para substituir produtos chineses. O setor de vestuário da Zona da Mata mineira, tradicional polo de confecções, tem a chance de conquistar uma fatia maior do mercado externo. Marcas brasileiras de moda vêm marcando presença em feiras internacionais e missões comerciais para apresentar suas coleções, reforçando atributos de qualidade e criatividade. Em Nova York, por exemplo, uma delegação de marcas nacionais participou da feira Coterie em fevereiro, buscando atrair grandes varejistas num mercado que deve consumir US$ 365,6 bilhões em vestuário em 2025. Essa aproximação é estratégica, pois os EUA continuam sendo o maior importador global de roupas – foram US$ 77 bilhões em importações de janeiro a novembro de 2024.

Ganhos potenciais e cuidados necessários

Com as tarifas punitivas tornando os produtos chineses muito mais caros nos EUA, o Brasil pode competir em melhores condições de preço. Embora o país ainda responda por parcela mínima das compras americanas (apenas US$ 17,8 milhões exportados aos EUA em 11 meses de 2024, posicionando o Brasil como 53º fornecedor), espera-se um incremento. Exportadores brasileiros de vestuário relatam aumento de consultas e pedidos do exterior desde o início das sanções comerciais sino americanas. De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), as empresas estão se organizando em conjunto para negociar com compradores dos EUA e aproveitar a brecha deixada pela China. Uma missão empresarial brasileira visitou os Estados Unidos no início de maio para tratar de negócios com varejistas interessados.

No entanto, a oportunidade vem acompanhada de desafios. Produtos chineses excedentes podem ser desviados para outros mercados, incluindo o Brasil, intensificando a concorrência doméstica. O volume que deixará de entrar nos EUA – cerca de US$ 28 bilhões anuais em têxteis e confeccionados chineses (valor importado pelos americanos da China em 2024) – tende a buscar novos destinos. Entidades setoriais como a ABIT alertam para o risco de “invasão” de artigos asiáticos no mercado brasileiro a preços baixos. No setor de calçados isso já preocupa, e em vestuário não é diferente. Por isso, além de olhar para fora, os fabricantes locais devem ficar atentos à defesa comercial e a medidas de controle de importações desleais.

Preparação e adaptação das indústrias locais

Para aproveitar o momento, as confecções da Zona da Mata e de todo o Brasil precisarão investir em diferenciais. Apostar em qualidade, design original e cumprimento de prazos são fatores chave para conquistar os clientes estrangeiros frente a competidores tradicionais da Ásia. Além disso, certificações socioambientais podem agregar valor e tornar os produtos brasileiros mais atraentes num contexto em que importadores americanos estão diversificando fornecedores por motivos não só econômicos, mas também de compliance e sustentabilidade.

No curto prazo, já há resultados palpáveis: em janeiro, uma comitiva brasileira na feira Colombiatex (na Colômbia) – importante evento latino-americano do setor têxtil – gerou cerca de US$ 8,5 milhões em negócios imediatos e prospectou mais US$ 91 milhões para os próximos meses, indicando apetite por tecidos e materiais brasileiros. Embora esse volume seja voltado principalmente para insumos, reforça a confiança na capacidade do Brasil de competir em nível internacional. Com planejamento, inovação e apoio institucional, os empresários de vestuário podem converter a crise entre EUA e China em uma oportunidade concreta de expansão das exportações, fortalecendo tanto a indústria nacional quanto a economia da Zona da Mata mineira.

Inovação Tecnológica e Automação Acessível Transformam o Setor Têxtil e de Confecções

  Feiras recentes revelam a nova face da tecnologia têxtil O primeiro quadrimestre de 2025 foi marcado por grandes eventos tecnológicos no s...