Feiras recentes revelam a nova face da tecnologia têxtil
O primeiro quadrimestre de 2025 foi marcado por grandes eventos tecnológicos no setor têxtil e de vestuário, evidenciando soluções de automação acessíveis até para pequenas e médias confecções. Em fevereiro, São Paulo sediou a feira FebraTêxtil 2025 (18 a 20 de fevereiro), que retornou ao Expo Center Norte reunindo mais de 11 mil visitantes e centenas de expositores de equipamentos, insumos e serviços para a indústria. Em abril, ocorreu em Americana (SP) a 7ª edição da TecnoTêxtil Brasil 2025 (22 a 25 de abril), considerada a maior feira de tecnologia têxtil do país, com todos os estandes vendidos e fila de espera de expositores. Nesses eventos, o foco esteve em apresentar inovações que cabem no orçamento e na escala de fabricantes menores, não apenas em maquinários para gigantes.
Um destaque foi a presença de empresas nacionais fornecedoras de máquinas de costura, corte e estamparia de última geração a preços competitivos. A catarinense Rolemak, por exemplo, exibiu na TecnoTêxtil novas máquinas de costura industrial, bordado e corte a laser de alta eficiência, com pacotes que incluem treinamento e suporte técnico local. A proposta é clara: aumentar a produtividade e competitividade mesmo das pequenas confecções, através de equipamentos mais rápidos, precisos e conectados. Soluções de automação simples, como dispositivos para enfesto automático de tecidos ou mesas de corte eletrônicas, estiveram entre os campeões de interesse do público – muitos confeccionistas da Zona da Mata compareceram à feira em busca dessas ferramentas para modernizar seus parques fabris.
Além das máquinas físicas, a digitalização de processos despontou como tendência acessível. Softwares nacionais de modelagem e encaixe automático (que otimizam o aproveitamento do tecido) foram demonstrados, assim como sistemas de gestão de oficina que monitoram em tempo real a produção. No âmbito da Indústria 4.0, um projeto apoiado pelo Senai lançou um sistema de baixo custo voltado a pequenas fábricas de vestuário, capaz de acompanhar paradas de máquinas, índices de refugo e eficiência de até 8 máquinas simultaneamente. Essa ferramenta, espécie de “painel de controle” da confecção, usa sensores simples e conexão Bluetooth para fornecer dados de chão de fábrica via aplicativo – tornando viável a gestão visual e em tempo real mesmo em negócios familiares. “É uma inovação sob medida para a nossa realidade de pequenas facções”, comentou um empresário de Muriaé (MG) presente no lançamento.
Automação para todos: financiamentos e capacitação
O governo e entidades setoriais têm apoiado a difusão dessas tecnologias. A política industrial Nova Indústria Brasil incluiu a confecção entre os setores prioritários para modernização, e a recente implementação da Depreciação Acelerada (incentivo fiscal) permite às empresas do vestuário abaterem 50% do valor de novas máquinas já no primeiro ano. Isso significa recuperação mais rápida do investimento em automação, aliviando o peso inicial para adquirir equipamentos. Além disso, linhas de crédito do BNDES e bancos regionais estão ativas: o programa Brasil Mais Produtivo, em parceria com o Senai, atendeu milhares de micro e pequenas indústrias com consultorias para elevar produtividade através de melhorias de processo e adoção de tecnologia. Em Minas Gerais, o Programa FIEMG Competitiva vem subsidiando consultorias de inovação para confecções, enquanto workshops de Indústria 4.0 foram realizados em cidades da Zona da Mata (incluindo capacitação em Planejamento e Controle da Produção em Juiz de Fora, em abril, via SENAI regional).
Os resultados dessas iniciativas já aparecem nas estatísticas. Segundo a ABIT, 42% das empresas têxteis e de confecção planejam investir em tecnologia e automação em 2025 – um salto significativo que indica um ambiente setorial propício à inovação. Vale lembrar que em 2024 o setor voltou a crescer (produção têxtil +4%, vestuário +3,8%) após anos difíceis, o que anima os empresários a reinvestirem parte dos lucros em modernização. “Estamos vendo robôs de costura colaborativos, mesas de corte automáticas com preço de carro popular, sistemas de rastreabilidade via QR code nas etiquetas – coisas que pareciam distantes agora ao alcance das PMEs”, comenta Fernando Pimentel, diretor da ABIT, enfatizando que a difusão tecnológica é crucial para o Brasil ganhar competitividade frente a países asiáticos.
Impacto local: produtividade e qualidade em alta
Nas confecções da Zona da Mata, a adoção dessas inovações vem ocorrendo de forma gradual, porém consistente. Algumas fábricas de moda íntima na região de Juruaia investiram em máquinas de costura computadorizadas que cortam linha e fazem arremate automaticamente, reduzindo o tempo por peça e o retrabalho. Malharias em Leopoldina passaram a utilizar sensores para controle de tensão nos teares e monitoramento preventivo – evitando paradas inesperadas. E em Ubá, polos moveleiro e de confecção se uniram para compartilhar um laboratório de impressão digital têxtil, onde pequenas marcas podem estampar seus tecidos com alta qualidade sem precisar importar serviços. Esse formato colaborativo diminui custos e democratiza o acesso à tecnologia de ponta.
A automação acessível também traz ganhos de qualidade e rastreabilidade, o que é cada vez mais demandado pelos clientes. Com sistemas simples de visão computacional, algumas confecções implementaram inspeção de qualidade ainda na linha de produção (câmeras detectam falhas de costura ou manchas), garantindo que cada lote saia praticamente livre de defeitos. Isso reduz devoluções e desperdício, impactando positivamente o bolso do empresário. Há ainda a vertente da sustentabilidade: muitas inovações tecnológicas apresentadas nas feiras também ajudam a economizar recursos naturais – por exemplo, máquinas de tingimento digital que consomem menos água e energia, ou painéis solares para aquecer caldeiras de lavanderia.
Preparando-se para o futuro imediato
A mensagem principal dos eventos e iniciativas recentes é que nenhuma empresa de vestuário está condenada a ficar para trás tecnologicamente. As soluções existem para todos os portes: desde um simples software freemium de gestão de estoque até um robô de enfesto que se paga em meses. Especialistas recomendam que os empresários da Zona da Mata identifiquem seus gargalos produtivos e busquem a tecnologia adequada a cada problema, lembrando que automatizar não significa necessariamente substituir mão de obra, mas sim elevar o patamar de eficiência e liberar os funcionários de tarefas repetitivas para funções de maior valor (como design, vendas e controle de qualidade).
Com a proximidade de grandes eventos como a Copa do Mundo de 2026 e até mesmo a perspectiva de o Brasil sediar a Expo 2030, a cadeia da moda quer estar preparada para atender aumentos de demanda com agilidade e excelência. A adoção de tecnologias agora, em 2025, colocará as confecções locais em posição de vantagem para colher frutos nessas oportunidades futuras. Afinal, um parque fabril modernizado produz mais, com menos custos e menos erros – o que se traduz em preços mais competitivos e melhores prazos, fatores determinantes para ganhar mercados. Tudo isso sem perder a essência criativa e artesanal que caracteriza a moda mineira, mas sim potencializando-a com ferramentas do século XXI.