quinta-feira, 8 de maio de 2025

Exportações de Vestuário: Oportunidades e Desafios Recentes em Feiras e Acordos

O Brasil no circuito das feiras internacionais de moda

Entre o final de 2024 e os primeiros meses de 2025, o Brasil ampliou sua participação em feiras internacionais de vestuário, buscando firmar posição no mercado externo de moda. Em janeiro, uma delegação recorde de 43 empresas brasileiras participou da Colombiatex 2025, em Medellín – a principal feira têxtil da América Latina. Sob coordenação do programa Texbrasil (parceria ABIT/Apex-Brasil), 36 dessas empresas eram fabricantes de tecidos e insumos, e 7 integravam o projeto Brazil Machinery Solutions. O resultado foi animador: durante os três dias de evento, foram realizadas 7 mil rodadas de negócio, contabilizando US$ 8,5 milhões em vendas fechadas e expectativa de mais US$ 91 milhões nos próximos 12 meses. Houve forte procura internacional por tecidos sustentáveis e inovadores brasileiros, reforçando a competitividade do país nesse nicho.

No segmento de vestuário pronto, marcas brasileiras também marcaram presença em feiras de moda nos EUA e Europa. Em fevereiro, 15 marcas de moda feminina e acessórios do Brasil expuseram na feira Coterie New York 2025, vitrine global para atacadistas e boutiques premium. A participação, apoiada pelo Texbrasil, visou aproveitar o enorme mercado norte-americano – que deve consumir US$ 365 bilhões em vestuário em 2025. Executivos da ABIT ressaltaram a importância da Coterie como plataforma para gerar contatos com compradores dos EUA e Canadá, abrindo portas em shopping centers e lojas de departamento. Apesar da distância em preços e estilos, o interesse por produtos com identidade brasileira (como moda praia, calçados de design e bolsas de couro) tem crescido nesses eventos.

Na Europa, em fevereiro ocorreu a tradicional Première Vision Paris, focada em tecidos e tendências. O Brasil levou estúdios de design têxtil, empresas de couro e alguns confeccionistas para expor novas estampas e materiais. A estratégia de promoção do país enfatiza atributos como criatividade tropical, sustentabilidade e capacidade de produção sob encomenda – qualidades apreciadas por marcas independentes e designers internacionais que visitam essas feiras em busca de fornecedores diferenciados.

Além disso, o país participa de mostras setoriais ao longo de 2025, como a MAGIC Las Vegas (agosto) e a Africa Sourcing & Fashion Week, em Adis Abeba (outubro), reforçando sua presença global e a busca por novos contratos.

Ganhos com acordos comerciais e acesso a novos mercados

No campo diplomático-comercial, a conclusão do acordo Mercosul-União Europeia promete reduzir custos e entraves para exportar vestuário brasileiro à Europa nos próximos anos. Setores como o de confecções e calçados, historicamente protegidos na UE, passarão por desgravação tarifária gradual em até 10 anos. Isso significa que, aos poucos, marcas brasileiras poderão vender seus produtos na Europa com menor carga tributária, tornando-se mais competitivas em preço. Estudos apontam que, quando plenamente implementado, o acordo pode aumentar em R$ 1,8 bilhão as exportações brasileiras anuais, com destaque para alimentos, celulose e manufaturados como têxteis e vestuário. Pequenas e médias empresas também serão beneficiadas, pois o acordo prevê facilitação de normas técnicas e reconhecimento mútuo, o que ajuda a reduzir a burocracia que costuma dificultar a vida dos pequenos exportadores.

Outra oportunidade estratégica está na reconfiguração das cadeias globais de fornecimento. Com o acirramento da disputa comercial entre EUA e China – que levou as tarifas americanas sobre produtos chineses a ultrapassarem 100% – importadores dos Estados Unidos passaram a diversificar seus fornecedores. Países da América Latina, mais próximos e politicamente alinhados, ganham espaço na tendência conhecida como nearshoring ou ally-shoring. Embora o Brasil ainda não seja um grande exportador de vestuário para os EUA como o México ou a América Central, o cenário atual favorece o país, principalmente em nichos como jeans e malharia básica. A diferença de custo, antes elevada, tornou-se menos expressiva com as novas tarifas, e a logística mais ágil também favorece fornecedores da região.

Desafios internos e estratégias para crescer lá fora

Apesar dessas oportunidades, as exportações brasileiras de vestuário ainda enfrentam desafios consideráveis. Em 2024, o Brasil exportou US$ 908 milhões em produtos têxteis e de confecção, mas importou US$ 6,6 bilhões, resultando em um grande déficit comercial. Ou seja, o país ainda é um importador líquido de moda, sobretudo de itens asiáticos de baixo custo.

Um dos principais obstáculos é a escala produtiva. Muitos compradores internacionais exigem volumes elevados e entregas regulares, o que pode ser difícil para confecções de menor porte. Polos como o da Zona da Mata, compostos majoritariamente por pequenas fábricas, precisam atuar de forma colaborativa para atender pedidos maiores. O modelo de consórcios de exportação, já usado com sucesso em outros setores, é uma alternativa viável e conta com apoio da Apex-Brasil.

Outro desafio é adequar os produtos aos mercados-alvo. Adaptar coleções, modelagens e materiais exige pesquisa e planejamento. O exemplo da Colombiatex reforça essa ideia: os maiores volumes de negócios vieram de tecidos funcionais e sustentáveis, segmento no qual o Brasil tem vantagem competitiva (ex: poliéster reciclado, seda da Amazônia). Já no vestuário pronto, os melhores resultados vêm de nichos específicos como moda praia, fitness e calçados femininos, onde o país tem identidade forte.

Feiras internacionais continuam sendo a principal ponte para entrar e crescer no mercado externo, com apoio institucional da Apex-Brasil, da ABIT e das entidades estaduais. Investir em branding, certificações (como Origem Brasil) e em profissionalização comercial é o caminho para aproveitar as janelas que 2025 está abrindo.

O ano de 2025 apresenta um cenário encorajador para as exportações brasileiras de vestuário, com oportunidades reais em mercados consolidados e emergentes. Acordos comerciais trazem vantagens tarifárias, as feiras internacionais geram visibilidade e negócios, e o reposicionamento de grandes mercados abre espaço para novos players.

Com planejamento, visão estratégica e articulação coletiva, polos produtivos como o da Zona da Mata mineira têm potencial para conquistar novos mercados, se destacando por sua qualidade, criatividade e capacidade de adaptação. Superar obstáculos logísticos e burocráticos será tão importante quanto oferecer estilo e bom preço. Exportar moda exige persistência – mas também é uma oportunidade concreta de expansão e valorização da indústria nacional.

 

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